Meu grande amigo, hoje infelizmente nos despedimos de você. Eu queria deixar algumas coisas escritas especialmente para compartilhar com sua família, nossos amigos e para mim mesmo, no futuro.
Eu me considero muito sortudo por ter passado muito tempo próximo a você nos últimos anos. Por ter podido visitar sua casa na Holanda, em que você e Harriette me receberam com tanta alegria. Impossível esquecer aquelas infinitas manhãs de planejamento do dia entre vários capuccionos e stroopwafles. Depois por poder receber vocês na minha casa em Portugal, conhecermos juntos o país que eu tava vivendo, comer, beber e rir pra cacete! Foram muitas experiências inesquecíveis. Dentre todas as fotos que você tirou eu procurava agora alguma daquele rolé de skate em Vigo, aquele dia não sai da minha cabeça!
Eu aprendi tanta coisa contigo, meu irmão! Até hoje tem um Tanqueray aqui em casa esperando para que a gente tomasse aquela gim-tônica que tu fazia. Acho que eu não ia andar de skate até hoje se não fosse você, nem surfar... Eu tive 3 pranchas até hoje, duas consegui contigo. Nossos rolés de skate, em Vigo, Porto, Novo Mundo, Paineiras ou Grajaú, caralho, são momentos que eu não vou esquecer nunca. Obrigado pelos seus conselhos e incentivos em todos os momentos.
Você para mim sempre foi um exemplo. Poucos tiveram a chance de te compreender, você parecia apenas um moleque revoltado com a vida. E você sempre foi revoltado, não levava desaforo para casa não importa onde estivesse. Tinha uma mente inquieta sempre em busca de coisas novas, que te levou até a NZ. Nessa época a gente se falava pouco, mas eu sabia que aquela era a experiência da sua vida, era o que você mais queria. E realmente você nunca mais foi o mesmo depois de tantos amigos, casas, trampos e viagens.
Mas aqueles que conseguiram te conhecer melhor sabem que conheceram uma das pessoas mais apaixonantes que já passaram por aqui. É tamanha sua compaixão, amizade, altruísmo que você tem grandes amigos em quase todos os continentes desse mundo. Seu entusiasmo e seus sonhos vão continuar nos inspirando a nunca nos acomodar e a sempre buscar aquilo que acreditamos. Tu foi o marrento mais fofo que eu já conheci!
Eu ficava brincando de imaginar onde você estaria em uns 5 ou 10 anos. Se eu estaria te visitando em um resort de surf na indonésia ou numa casa perto da praia na Austrália ou simplesmente viajando por aí para onde tivesse um trampo. Infelizmente você foi antes de realizar seu sonho de voltar para NZ, isso me deixa triste.
No meio disso tudo a gente (eu, você, Caian e Ana) saía da faculdade para almoçar rapidamente lá em casa porque tinha aula de cálculo à tarde. Mas é claro que a gente não voltava. Em compensação decoramos quase todas as falas de Meu Nome Não É Johnny. Sem contar as inúmeras viagens que fizemos. CONAC, Festa do Tomate, Aventureiro, Portugal, Holanda, ...
A essa altura você já deve ter reparado a carta de baralho que o Kurt deixou contigo hoje. Assim você pode continuar a exercer a arte do truco também no céu, e já começa com uma mão boa. Nada mais justo para quem foi um dos mestres do CEFET nessa arte.
Os anos finais da sua vida mostram o homem que você se tornou ao lado da Harriette. A forma como vocês apoiavam um ao outro foi muito bonita. Eu tenho certeza que você cresceu muito ao lado dela, e sei o quanto você a amava.
A quantidade de pessoas que foram hoje se despedir de você mostram o quanto você fez diferença enquanto esteve aqui, meu irmão. Você foi amor do princípio ao fim.
Como te conheço bem, sei que não adianta que você não vai descansar agora nem nunca. Espero que tu alegre o lugar que você está como alegrou nossas vidas.
Gostaria de dedicar isso à D. Luzia e à Harriette que cuidaram de você de forma incansável nos seus últimos dias de vida e te deram uma passagem tranquila. Eu sei que você amou essas mulheres como nada mais na sua vida.
? 19/04/1990 - † 06/03/2015